sábado, 18 de maio de 2013

PRESÉPIO DE NATAL VIRA MORADIAS DE PESSOAS

                                          Fotos de: Adriano Abreu










Manoel e Josicleide são casados, pais de três filhos e moram no Alto da Candelária, há aproximadamente um ano. Eles poderiam passar despercebidos na história da cidade não fosse pelo  imóvel onde residem. O empreendimento em questão possui mais de três mil metros quadrados além de estacionamento e jardim. Foi idealizado pelos imortais da Academia Norte-Riograndense de Letras e o projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer. A construção foi concluída há sete anos e desde então serviu apenas para ilustrar reportagens e mais reportagens sobre o descaso do poder público com o espaço, idealizado para abrigar lojas de artesanato, eventos culturais e servir como ponto para contemplação da paisagem. 

O imóvel que ilustra essa reportagem é o Presépio de Natal, localizado em um dos pontos mais privilegiados do bairro da Candelária. Apesar da construção ter custado R$ 1,3 milhão aos cofres públicos é um equipamento difícil de se avaliar. Com base apenas na localização e desconsiderando as grifes citadas acima, o metro quadrado  da região pode variar de R$ 1 mil a R$ 3,5 mil. A variação depende do tipo do imóvel.

Manoel  Messias da Silva, 52, é carioca. Veio do Rio de Janeiro há mais de uma década e na Cidade do Sol se empregou na obra de construção do shopping Midway Mall. Foi nessa época, que ele não recorda exatamente a data, que conheceu Josicleide Francisca da Silva, 25, hoje dona de casa. Quando o centro comercial ficou pronto, “Carioca”, como é chamado pelos atuais vizinhos”, perdeu o emprego. Passou por dificuldades para conseguir uma vaga no mercado formal já que atuava como autônomo na sua cidade natal. Tendo que viver com um orçamento apertado, para não dizer inexistente, caíram nas ruas e passaram uma noite na praça do Monumento Presépio de Natal. “Quando cheguei aqui estava cheio de morador de rua, muito sujo e abandonado”, recorda Manoel.

Com o passar do tempo ele e a esposa foram tomando conta do local. O cenário que se observa hoje, passado um ano, é de uma casa, dividida em cômodos, semi-equipada com mesa, cadeiras, armários, estante com livros e revistas, decorada com painéis e alguns eletrodomésticos. Eles não possuem energia elétrica, mas a água é encanada. “Morar aqui é ótimo. Não tenho do que reclamar”, confessa Manoel. Como toda mulher, Josicleide aproveita a oportunidade para fazer uma crítica. “Bom seria se eu tivesse um fogão com bujão de gás”. Quando a TRIBUNA DO NORTE esteve no local, ela preparava o jantar da família: cozido de carne e legumes, batata doce e chá, todos preparados no fogão a lenha improvisado em um dos seis espaços criado para funcionar como loja de artesanato.

As crianças não moram com o casal para evitar conflitos com o Conselho Tutelar, segundo a própria Josicleide. Os filhos de 5 anos, 4 anos e 1 mês de vida moram com a irmã. A única pessoa que divide o teto com eles é o pastorador de carros e ex-presidiário Fábio Pinheiro de Melo, 38. “Eles são como uma família para mim. Saí de casa muito cedo, perdi o caminho certo da vida e fiquei preso. Sou afastado da minha família e eles aqui me recebem”, confessa. Fábio também ajuda a fazer a vigilância do local. “Quando ele (Manoel) sai para trabalhar eu fico aqui cuidando para que não roubem nossas coisas nem façam nada com a mulher. A gente se reveza”, dispara Fábio. Não podemos esquecer de citar o animal de estimação do grupo. Uma coelha encontrada por Fábio no último dia das mães.


Fonte: Tribuna do Norte


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