domingo, 29 de abril de 2012

OS TURISTAS QUE VISITAM A PRAIA DO MEIO E OUTROS LOCAIS DE NATAL PRESSISAM DE MELHOR APOIO NA SEGURANÇA

Numa cidade cuja principal atividade econômica é o turismo e que vai sediar jogos da Copa do Mundo, é preciso garantir uma infraestrutura mínima de segurança para oferecer tranquilidade aos brasileiros e estrangeiros que desembarcam no Aeroporto Internacional Augusto Severo ou no Terminal Rodoviário Severino Tomaz da Silveira e que se hospedam em busca de lazer e diversão em Natal e adjacências. Só que se a Copa fosse hoje, tanto o policiamento ostensivo, feito pela Polícia Militar, quanto o investigativo, realizado pela Polícia Civil, deixam a desejar no quesito assistência ao turista. Isso porque vários fatores dificultam o trabalho dos policiais e agentes, tais como infraestrutura, pouco efetivo e falta de incentivo à capacitação, como os cursos de idiomas, imprescindíveis para quem lida com turistas estrangeiros.

A demanda é alta. Segundo a Secretaria Estadual de Turismo (Setur), cerca de 2 milhões de turistas visitam Natal a cada ano. Desse total, 30% são estrangeiros, a maior parte portugueses. Contudo, com a justificativa de que quase não há ocorrências envolvendo turistas, pouco se investe nessa polícia especializada. Para toda essa demanda atual, apenas 130 policiais atuam entre Genipabu e Ponta Negra, área de circunscrição da Companhia Independente de Policiamento Turístico (Cptur).

Criada em abril de 2010 para agir preventivamente como órgão de apoio às ações de policiamento, a Cptur atua em áreas de especial interesse turístico e na preservação do patrimônio turístico da Região Metropolitana de Natal. No caso da Delegacia Especializada de Atendimento ao Turista (Deatur), que age em toda ocorrência policial onde a vítima é um turista, apenas 14 pessoas são responsáveis pelas investigações em todo o Estado, incluindo-se nessa cota a delegada responsável, os chefes de cartório e de investigação e os onze agentes.

Se a Copa trouxer na bagagem mais turistas, é preciso no mínimo um reforço para atender esse público. Atualmente apenas 38 policiais fazempatrulhamento diário dentro das sete viaturas, e mais dez nos postos fixos existentes na orla. "Até o meio do ano estaremos instalados na Via Costeira, o que vai facilitar o nosso trabalho. Além disso, existe a questão do efetivo, sempre necessário. Quanto mais policiais nas ruas melhor para a população. Outra questão são as diárias operacionais, necessárias para os nossos homens que atuam na alta estação", diz o major Marlon de Góis Bay, que comanda a companhia independente.

Inciativa privada por ser aliada

A obra da nova sede da companhia, que fica no antigo Grupamento do Corpo de Bombeiros, no centro da Via Costeira, está caminhando. Mas é preciso agilizá-la. No momento em que a reportagem do DN estava na atual sede da Ciptur, no Quartel do Comando Geral, no Tirol, sacos de cimento aguardavam ser levados às obras e alguns veículos passavam por manutenção. "Estamos tocando a obra com o pouco que temos. Talvez com uma parceria com a iniciativa privada, quem sabe os donos de hotéis ou a ABIH [Associação Brasileira da Indústria de Hotéis] pudessem doar material para a reforma da nossa sede. Se a iniciativa privada se aliar com a Polícia Militar as coisas vão andar com mais velocidade", afirma Marlon de Góis.

Enquanto os investimentos públicos (nem os privados) não vêm, é preciso trabalhar com as condições atuais. A maior parte das ocorrências do policiamento turístico se refere a pequenos roubos e furtos. "São raras as ocorrências com turistas aqui em Natal. Tem dias que não registramos nenhuma. A maioria procura os policiais para pedir informações e orientações com relação às praias. Claro que não trabalhamos sós. Contamos com apoio de unidades como a Rocam [motocicletas], cavalaria ou com os companheiros do 1º BPM [Rocas]", diz o major. Outro tipo de ocorrência relativamente comum são as tentativas de suicídio na Ponte Newton Navarro. "Conseguimos impedir 90% dos saltos que poderiam haver ali".

Hoje existem sete viaturas percorrendo diariamente o trecho de competência da Cptur, e quatro postos fixos situados em locais como a entrada da Via Costeira, as imediações da Ponta do Morcego (Praia dos Artistas), a Praça da Jangada (Praia do Meio), e o Forte dos Reis Magos. Além disso, há instalações da Ciptur no Centro de Turismo, em Petrópolis, e está sendo construída a nova sede da companhia. Somadas às viaturas do comando e subcomando, dez carros são responsáveis pelo policiamento turístico. A Ciptur também conta com oito bicicletas para ciclopatrulhamento nas praias e dois quadriciclos, normalmente usados na alta estação, quando há um reforço do efetivo.

Inglês ainda é incipiente

A Companhia Independente de Policiamento Turístico é um órgão de execução e unidade operacional de caráter especializado, sendo responsável na atuação preventiva contra crimes envolvendo turistas. Ela atua na repressão e em caso de violação da lei em áreas de especial interesse turístico da Região Metropolitana de Natal, além de cooperar com as atividades das demais Unidades Operacionais da Polícia Militar, com outros órgãos do Sistema de Segurança Pública e da Defesa Social.

"Nós temos uma estrutura razoável, com efetivo satisfatório. Apesar de tudo, acredito que a avenida mais segura do Rio Grande do Norte, que inclui a orla da área urbana de Natal, entre Santa Rita e a praia de Ponta Negra, é de nossa competência", argumenta Marlon de Góis, há um ano à frente da companhia. "Nosso público tanto é o turista quanto o público local que está nos polos de visitação de forma geral. Nossos policiais são orientados a lidar com o turista. Orientamos a tratá-los com cortesia. Como o turista geralmente não conhece a cidade, também é carente de informação e de atenção de maneira geral".

Para superar a limitação no quadro de policiais, a companhia toma algumas estratégias. Durante a alta estação, por exemplo, nenhum policial tira férias. Todo o efetivo é deslocado para patrulhar os pontos turísticos da capital e região. "Por enquanto com relação a idioma ainda se exige muito pouco de nós, mas eu pretendo fazer sim um curso de inglês. O que ajuda é que geralmente os garçons, guias de excursões, gerentes de hotéis e motoristas de táxi sabem falar inglês, ou então levamos o turista à delegacia. Lá eles desenrolam", diz o soldado Wendell Nicolau dos Santos, que faz trabalho ostensivo e preventivo.

O tenente Nicolas Neves Beda, que está há dois anos na Companhia, começou um curso de qualificação no Senac para aprender inglês. Atualmente ele entende a parte escrita e algumas palavras no idioma estrangeiro. "Quero ter fluidez no inglês para poder me comunicar melhor com os turistas. Como basicamente eles buscam informações dos locais, como hotéis, shopping centers, ônibus e acessos aos pontos turísticos, é importante. E imprescindível para nossa principal função, que é a de prevenir para que não aconteçam delitos, conforme determina a Constituição", argumenta Nicolas, já formado em cooperativismo e cursando a segunda graduação, em Ciências Contábeis na UFRN.

"Um dos problemas da capacitação é que, usualmente, o policial que fala inglês normalmente não quer trabalhar nas ruas, e sim ser promovido, ficar em algum gabinete ou atuando nos setores administrativos", declarou outro policial, que preferiu não se identificar. Em 2010 alguns policiais da Ciptur fizeram o Curso de Capacitação em Turismo, numa parceria entre a Federação das Indústrias do RN (Fiern), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN) e a Escola do Governo. Puderam aprender noções de línguas e dados sobre os principais pontos turísticos de Natal e do Rio Grande do Norte. "Na formação de novas turmas é designada uma parte do efetivo para a Ciptur. Nesse curso, por exemplo, eles tiveram uma oportunidade de se capacitar. Não é critério, por exemplo, falar inglês ou espanhol para vir pra cá, mas a gente procura policiais que tenham um perfil adequado a trabalhar com o turista", justifica o comandante Marlon de Góis.

Atualmente existem dez policiais que fazem cursos de idiomas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), de forma gratuita, dentro do programa desenvolvido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) para a Copa 2014. "Queremos ampliar essa capacitação. A Senasp já garantiu que vai fornecer cursos de idiomas. A nossa meta é que 100% dos nossos policiais saibam falar inglês até a Copa 2014", planeja Góis.

Delegacia é bem localizada, mas acesso deixa a desejar

Se a Polícia Militar que atende ao turista precisa de melhorias, a Civil não fica muito atrás. Responsável por atender os turistas que foram vítimas de algum tipo de crime, a Delegacia Especializada de Atendimento ao Turista (Deatur) é bem localizada. Funciona em Ponta Negra, dentro do Praia Shopping, o mais frequentado pelos turistas que procuram Natal. O problema é que o acesso principal está bloqueado desde que a Central do Cidadão fechou as portas, e o acesso se dá pelos fundos, numa escada de alumínio, onde há equipamentos de ar-condicionado, tubulações e fiação. Um cadeirante seguramente não teria acesso à delegacia.

A delegacia também divide o mesmo espaço com a Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente (Deprema). Outro problema é o efetivo. Apenas 14 pessoas atuam na delegacia, incluindo a delegada Alzira Vieira, o chefe de cartório, o chefe de investigações e os onze agentes. De todo o efetivo, cinco servidores falam fluentemente outra língua diferente do português, o idioma oficial do Brasil. Sorte deles que o número de ocorrências ainda é baixo. No ano passado foram apenas 39 inquéritos instaurados e remetidos à Justiça. Mas a demanda cresce. Este ano, de janeiro a abril, já são 21 inquéritos, metade do registrado em todo o ano passado.

Na Deatur há uma viatura nova e mais duas (uma caracterizada e outra descaracterizada), coletes à prova de balas para alguns agentes, armas, munições e equipamentos como impressoras e computadores. No caso das ocorrências, o mesmo tipo de crime que caracteriza o perfil que procura a PM chega à civil: pequenos furtos e roubos. "Acredito que o nosso efetivo é suficiente não porque a demanda seja pouca, mas para a demanda que se tem a quantidade de policiais que dispomos é suficiente sim. Tanto para as investigações como para alguns trabalhos esporádicos que inevitavelmente precisamos fazer", declarou o escrivão da Deatur, Alexsandro Rocha. Por falta de efetivo na Polícia Civil, ele já teve que sair de um curso na Academia de Polícia (Acadepol) para lavrar um flagrante na Deprema, por falta de escrivão na delegacia vizinha à sua.

Normalmente quem procura a delegacia é o turista que frequenta lugares ermos, sinuosos, e que talvez por falta de informação não saiba quais regiões da cidade oferece mais riscos para ele. "Às vezes eles usam relógios de ouro, máquinas fotográficas digitais, demonstrando vulnerabilidade, e acabam sendo vítimas desses bandidos que se aproveitam dos turistas", disse Alexsandro. "Somos a única delegacia especializada para os turistas no Estado. Atendemos ocorrências em todo o Rio Grande do Norte. Mas nada impede que um crime que ocorreu em Mossoró seja investigado pela delegacia local, sempre contamos com as parcerias".


FONTE: DN ONLINE

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