sexta-feira, 27 de abril de 2012

GRANDE REPRESENTANTE DO SAMBA DAS ROCAS LANÇA DVD



                                 (Carlos Santos/DN/D.A Press)
                                                                 "DEBINHA"


Nascido e criado no berço potiguar do samba, o bairro das Rocas, desde cedo o sambista José Carlos Ramos, mais conhecido por Debinha, vive e respira o ritmo. Sua inspiração e grande incentivador foi mestre Lucarino, que em 1981 o convidou para compor o samba-enredo da escola Balanço do Morro, grande campeã daquele ano. Daí por diante, o amor pelo samba de raiz só cresceu. Completando 30 anos de carreira, Debinha lança neste sábado seu CD/DVD Debinha - 30 Anos de Samba, em show na AABB, às 20h.

Debinha fala que sua formação como sambista não poderia ter sido melhor. Aprendeu com grandes mestres como Lucarino, Antônio Melé, Farrapo, Setúbal, Chico Trunfa, Menezes, entre outros, com os quais diz ter aprendido que "o samba deve ser primeiro respeitado para depois ser compreendido e bem feito". Ele cita exemplo de grupos de samba jovens que vêm crescendo no cenário potiguar, como Arquivo Vivo e Linha de Passe, "que se preocupam em conhecer a história do samba de raiz e lhe dão orgulho de ter plantado essa semente no passado, quando as coisas eram muito mais difíceis", diz.

Para o músico, o DVD que será apresentado é uma forma de deixar sua marca no samba potiguar que ele ajudou a construir os pilares, juntamente com seus mestres do samba de raiz. O repertório vai de Cartola e Zequeti até os compositores mais atuais, como Martinho da Vila e Arlindo Cruz. O show foi gravado no Teatro Alberto Maranhão (TAM0, no ano passado, com casa lotada, e está sendo lançado agora. Entre os convidados no DVD, estão Carlos Zens, Lucinha Lira e as escolas Balanço do Morro e Malandros do Samba encerando o show com samba-enredos de sua autoria. Debinhae procurou juntar as "pessoas que tinha história dentro do samba e figuras que têm grande importância na cena cultural do estado" neste DVD que marca, sobretudo, 30 anos de história no samba potiguar. A festa acontece, com início previsto para às 20h, terá ainda o show do grupo Chico Preto Samba Jazz.

Dificuldades

Sobre as dificuldades de se trabalhar com samba em Natal, Debinha - também integrante do grupo Roda dos Bambas - diz que elas são muitas, mas já foram piores. "Hoje, as portas estão abertas para o samba, mas na minha época a dificuldade era imensa. O samba é discriminado em Natal", conta. Mas, com muito trabalho e perseverança, os sambistas da década de 1980 conseguiram transpor as barreiras sociais e temporais em um cenário amplamente dominado pelo forró e pelo axé. O sambista diz que o momento vivido pelo samba no estado foi um cenário construído com muito esforço e rodas de samba. "O samba não é mais moda em Natal, ele veio para ficar", reforça, acrescentando que os bares de Natal têm aberto cada vez mais espaço para uma programação voltada ao samba. "Grupos muito bons estão surgindo", conta Debinha, que se orgulha de ver sementes que ele plantou no passado redendo frutos.
Entrevista >> Debinha
"O samba em Natal não é moda, ele veio para ficar"

Com os olhos marejados, Debinha lembra das dificuldades enfrentadas ao longo desses 30 anos de carreira, onde o 'não' era uma palavra frequente. Como a vez, na década de 1990, em que ele e seu grupo foram mandados embora de um espaço cultural da cidade, pela esposa do diretor, que disse aos sambistas que "odeia samba". Mas, para ele, o que lhe mantém seguindo em frente é ver a proporção e reconhecimento que o samba tomou na capital potiguar. Os mesmos espaços que lhes diziam 'não' agora têm com o samba como ritmo recorrente em sua programação. Nesta entrevista, Debinha relata, entre outros assuntos, que se orgulha ao ver jovens sambistas lhes dizendo "um dia quero gravar meus 30 anos de samba como você, Debinha".

Como vê o cenário do samba em Natal durante esse tempo?

Foi em meados da década de 1980 que surgiram grandes nomes do samba nacional que permanecem até hoje, como Zeca Pagodinho. Em Natal também, com essa ascensão do samba em nível nacional, começaram a surgir grupos e rodas de samba nos bairros que deram uma alavancada e a cidade começou a respirar samba, mas ainda de forma mais discreta, como na orla da Praia do Meio e dos Artistas. O samba hoje caiu no gosto popular e assumiu um papel tão forte na nossa cidade que, mesmo em festa de forró, tem um grupo de samba ou pagode abrindo ou fechando o show. A cidade já enxerga o samba diferente, classes sociais que não são as de origem do samba já buscam pelo ritmo. O samba em Natal não é moda, ele veio para ficar.
Muitos ritmos e adaptações têm surgido. Como você interpreta toda essa novidade?
Alguns sambistas de raíz são mais radicais, não gostam quando um jovem chega cantando algo mais novo, como Exaltassamba. Eu não reclamo. Acho que o espaço está para todo mundo e o samba precisa ser cada mais mais aberto ao povo, mais democrático. Quando você esbarra em uma nova vertente, o samba é quem perde. Essa mistura de ritmos é a cara do nosso país, isso é uma riqueza e só engrancede a musica. Enriquecendo a música, o samba também ganha, posi ele é a raiz do nosso país. Ele é tipicamente nosso, brasileiro. O samba é para trazer às pessoas felicidade, alegria. Respeito todos os grupos de samba, sejam eles de pagode ou de raiz. Só em eles levatarem a bandeira do samba, para mim, já é nota mil.

Como se manter fiel ao samba de raiz por 30 anos?

Quando o samba estava meio morto, no começo dos anos 1980, e a gente não tinha espaço, eu via os mestres mais antigos desanimados. O pessoal do samba estava indo para o lado romântico, mais para o lado das serestas, e eu achava que aquilo não era o que eu queria. Algumas pessoas me incentivaram nesse momento, dizendo 'Debinha, fica aí, continua'. A rejeição sofrida antes, tenho certeza que não vai acontecer mais. Ver a semente plantadaem 1980 render frutos, completar 30 anos de história e ver jovens falarem para mim sobre a importância do meu samba na formação deles é uma alegria. Eu tenho certeza que vou estar marcado na história do samba potiguar e não existe nada melhor do que isso. É o que faz valer a pena toda a luta.



fonte: dn online

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