sexta-feira, 30 de setembro de 2011

UM FATO ESTÚPDO TIRA A VIDA DE UMA CRIANÇA NO CANTO DO MANGUE

Um sonho que foi tirado
A inosente Maria Eduarda


ARQUIVO: 29/11/2009
      O assassinato da menina Maria Eduarda Sabino, em 29 de novembro, e outros atentados ocorridos nos últimos dias na zona Leste de Natal estão relacionados a uma rixa que já dura quatro anos, entre gangues do bairro das Rocas e da comunidade do Maruim. De lá para cá pelo menos seis homicídios foram cometidos, além da tentativa ocorrida na noite do último sábado, durante a missa de 7º dia de Maria Eduarda, na Ribeira. 

Marcelo Barroso  A lei do silêncio impera na comunidade do Maruim desde o assassinato da menor Maria Eduarda, de 4 anos, ocorrido em novembroA lei do silêncio impera na comunidade do Maruim desde o assassinato da menor Maria Eduarda, de 4 anos, ocorrido em novembro
       A vítima deste último crime foi Gustavo Nicácio Alves, de 23 anos, casado com uma tia de Maria Eduarda. Ele é  apontado pela polícia como participante da morte de Adriano Araújo dos Santos, o "figurinha", membro do grupo das Rocas, em outubro deste ano.

O primeiro crime da série, e que acabou desencadeando todos os outros, aconteceu em 27 de novembro de 2005. Antônio Barbosa, conhecido como "Kênio", era morador do Maruim, e foi assassinado nas Rocas. Segundo a polícia, a rixa está relacionada com o tráfico de drogas. 

            A morte de Maria Eduarda pode ter sido em retaliação a uma outra ocorrida um dia antes. Por volta das 16h do sábado (28/11), Samuel Carlos Vasconcelos foi morto na rua São João de Deus, nas Rocas. "Ainda vamos começar os depoimentos. O que temos ainda são informações iniciais", disse o delegado Fábio Fernandes, da 2ª DP, que investiga o crime.

        Informalmente, a polícia sabe  que Andréa é dona de uma cigarreira onde se reúne a gangue que atua no Maruim. E que ela seria mandante de alguns dos homicídios cometidos contra integrantes do grupo rival. "Tudo isso ainda vamos checar", disse o delegado Fábio.

       Pelo fato de os crimes terem ocorrido em diferentes  jurisdições, as investigações são divididas por várias delegacias. A apuração da tentativa de homicídio contra Gustavo Nicácio é atribuição da 1ª Delegacia de Polícia, por ter ocorrido em frente à Igreja do Bom Jesus, na Ribeira. Já a morte de Eduarda está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da  Mulher (Deam Zona Sul).

      Porém, os três delegados que estão trabalhando nas investigações devem atuar em conjunto. "Claro que vamos fazer isso, pela possibilidade de os crimes estarem ligados", disse e delegado Fábio. Os parentes de Samuel devem ser ouvidos por ele nos próximos dias. A delegada de Defesa da Mulher, Antônia Deusa, preferiu não adiantar os dados já obtidos.

      Um dos fatores que vêm atrapalhando as diligências não é novidade para os policiais que atuam em comunidades em que o Estado é ausente: o silêncio causado pelo medo de retaliações. "De um jeito ou de outro os informes chegam até nós, mas quando vamos tomar os depoimentos ninguém viu nada, ninguém fala nada", disse Fábio Fernandes.

      Outro dado importante é que, alguns homens envolvidos nos últimos delitos já foram responsabilizados por crimes cometidos anteriormente, já por conta da tal rixa. Jadson Agostinho de Aguiar Melo, o "Jadinho", por exemplo, foi indiciado pela morte de Jeferson Alves, o "Figurinha", ocorrida em junho deste ano, mas continua solto. "É importante que se diga que todos esses envolvidos já tiveram a prisão pedida à justiça, mas ninguém entende porque nunca foi decretada", conta o delegado da 2ª DP.

No Maruim, ninguém viu nem fala nada sobre os homicídios

      Maria Eduarda, de 4 anos, vivia como outras crianças da comunidade do "Maruim". Sem usufruir de qualquer estrutura de esgotamento sanitário, a água servida corre pelos estreitos becos e vielas da comunidade. Boa parte das casas são bastante humildes e os moradores vivem cercados de lama, o que atrai os insetos que dão nome ao local.

       Na tarde de ontem a equipe da TRIBUNA DO NORTE esteve no "Maruim" e encontrou pessoas ressabiadas, de poucas palavras. As declarações são dadas de forma cuidadosa, para não comprometer ninguém. A violência no local é iminente e as entrevistas só são dadas sob a condição de que os nomes dos entrevistados não sejam revelados.

      A casa onde morava Maria Eduarda estava fechada e Andréa, a mãe da menina, estava no hospital Walfredo Gurgel, cuidando da mãe, com problemas respiratórios. "Ela está com muito medo. Todo mundo aqui está assim, depois que mataram uma inocente de quatro anos", disse uma mulher, enquanto jogava cartas com amigas em um dos becos.

      As mulheres disseram não entender o motivo do atentado contra Eduarda. Segundo as primeiras informações recebidas pela polícia, o verdadeiro alvo era Andréa, mas ninguém confirmou. "A gente não sabe nada sobre isso", disse uma familiar dela. Quanto ao atentado sofrido por Nicácio, cunhado de Andréa, no último sábado a declaração é a mesma. Ninguém sabe de nada.

     As pessoas que concederam entrevista estavam na missa de 7º dia de Eduarda, ocasião em que Gustavo sofre os tiros. Contaram que não viram nada, porque estavam dentro da igreja. "Ele estava do lado de fora. Por isso a gente só ouviu os tiros. Ficou todo mundo apavorado", disse uma jovem.

Memória

     Por volta das 15h do dia 29 de novembro deste ano, um domingo, Andréa de Lima, de 34 anos, estava na calçada de casa conversando com amigas, na favela do Maruim.  Dois homens surgiram no beco onde todos estavam e começaram a disparar vários tiros. Andréa correu, mas a filha dela, Maria Eduarda Sabino, de 4 anos, foi atingida no peito. Uma adolescente levou  um tiro na perna, mas sem maior gravidade.

     Com a fuga dos acusados, Andréa voltou e pegou a filha nos braços, sem saber o que fazer. A mulher decidiu levar a filha ao Hospital dos Pescadores, que fica logo em frente à comunidade. Mas já não havia tempo para salvar a garota, que morreu na unidade de saúde.  Com o início das investigações, a polícia chegou aos nomes de Jadson Agostinho de Aguiar Melo e Sanderson Vasconcelos, que estão foragidos.

      Na época, a Polícia Civil estava em greve e as investigações estão tomando rumos mais claros após o fim do movimento. No último sábado ocorria a missa de 7º dia de Eduarda, na Igreja do Bom Jesus, na Ribeira. Por volta das 18h, dois homens  chegaram em uma moto e acertaram um tiro na barriga de Gustavo Nicácio, de 23 anos, cunhado de Andréa. Ele está internado no Walfredo Gurgel e não corre risco de morte.

FONTE: TRIBUNA DO NORTE

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